segunda-feira, fevereiro 05, 2007

A Árvore

A terra sob os nossos pés. E eu nunca entendi o que você quis dizer com isso. Mas nós continuamos andando, sempre andando, mesmo que sangue tinja os dedos dos pés e é assim naquele monte marrom. Mas então eu pensei que naquele monte sobre aquela pedra veria-se um poente maior ainda, ainda não satisfeito com todos os que eu vi, mas eu dormiria tranqüilo se me tocasse pela sua mão. Mas é um fio que se constrói que vai diretamente da minha boca ao seu coração através do seu dedo e eu tenho medo de que fique aqui.
Sabe, não há desculpa pra isso, que eu quis que fosse um dorso branco ao amparar minhas selas, e eu tenho medo de você que não se deixar montar, e eu amo você e eu respeito você, só que não mais. Mais aquilo por uma toalha mais alva, mais isso por um banho mais longo, por vapores, por cheiros, por perfumes, inesquecíveis, e mais isso, no entanto, eu. Eu não posso me excluir disso, o banquete começa aí:
Vêm todos os homens adultos da tribo ao redor da árvore e eu sei que virá a dor e, será que eu acredito nisso?, para arrancar meus ossos, ou pior, a carne irrestritamente intrincada a eles, e eu serei arrastado por alamedas de árvores por bosques tão silenciosos sob luas tão calmas que pedaços de mim serão levados por forasteiros que os plantarão em seus quintais e eu serei a chuva também. Mas se perguntarem se fui eu, não fui eu ou eu não sei. Essas chuvas virão tombando por todo o céu ao redor de nós dois.
Enquanto as mulheres passarem correndo e gritando com o seu almoço de quinta-feira o mundo inteiro passará enquanto eu estiver imobilizado, o mundo inteiro passará, eu sei. Eu sei que eu verei o teu rosto talhado no tronco daquela árvore, o teu rosto sempre a me observar enquanto eu passar, seus olhos vão me olhar enquanto teus cachos caírem sobre teu rosto e você me deixará passar. Qual é o campo que não deixa o touro passar? Ou a porcelana que não deixa ser pisada?
Todas essas coisas são minhas e tuas assim como tudo que aconteceu e o universo entre nós. Eu não vou pedir desculpas, eu sei, por tudo que aconteceu. Mas eu quero que você saiba que o beijo dos teus lábios estará na minha testa, assim como o tronco que nunca cedeu.

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