segunda-feira, outubro 01, 2007

você faz falta

É. É óbvio que eu vou andar pelas ruas molhadas à noite só para ouvir, estar e falar com você. E depois, no auge da nossa afeição, eu vou te dizer que nada nos pertence realmente, que tudo já estava aqui antes de você chegar. Eu olho pra você, essa cara, e eu leio as suas palavras, suas palavras, e eu me pergunto por que você não escreve mais. Eu, como menino ansioso, quero muito mais. Eu me lembro que esqueci como é você comendo na mesa na minha frente. Eu ouço todas as pessoas falando e como elas falam e eu me lembro que tenho que fazer um esforço pra lembrar da tua risada. Mas a tua risada é solar. Eu sei que vou andar pelas ruas, as suas ruas, pra olhar a tua foto, pra ver o seu sorriso, pra ver teu piercing e teu brinco novo. Eu sei que eu vou correr pra te abraçar assim que eu chegar (mesmo pensando que talvez eu vá embora de novo), eu sei que eu vou morrer de prazer com você me metralhando de beijos assim que eu chegar.
Eu sei que você caminha pela tua vida. Eu sei que é você. Mas nas tuas manhãs e nos meus sonhos eu também não posso evitar de sonhar que é com você que eu falo, que nós nunca somos amados, mas que nós amamos por produzirmos amor. Eu sei que eu vou te chocar com as minhas teorias tão frias, tão correntes, tão banais, mas é você no meu sonho que se cala, e que vem andar comigo.
É você que me falta, em cada palavra falada e repetida, em cada imagem lembrada, do passado ou do futuro, eu deixo uma lágrima pra você, porque você está distante. Uma lágrima que não cai porque eu não choro.
Vem estar comigo, vem, vem estar comigo. Vem me inundar de beijos e bilhetes. De declarações insanas de amor que ninguém vai entender. De brigas gigantescas na rua que deixarão os passantes chocados. De um amor tão fino e delicado que ninguém mais poderá ver. Você produz isso em mim. Eu que não sinto nada.
Vem me falar dos seus sonhos vem. Vem me falar do que você não pode. Não esquece de mim. Me deixa te odiar por um segundo e depois a vida inteira pra não poder te largar mais. Deixa-me criticar em todos os teus defeitos e depois passar horas pensando em como eu posso provar o erro teu. Mas não esquece de mim. Caminhe com mim.
Eu sei que eu vou andar esta noite, este sonho, esta rua molhada com você. Eu sei que vai ser você. Quem vai sentir esse sentimento profundo retumbar no instante na alma de nós dois, e que nós vamos nos calar. Mas não esquece de mim. Eu sou estúpido, mas não esquece de mim. Eu sou um bobo, mas não esquece de mim. Eu errei, mas não esquece de mim.
Quem vai dizer que foi de nós dois esse sonho? Quem vai dizer que foi você? E depois eu vou acordar e vai ser só esse sentimento de não acordar, de não lembrar, mas do sentimento que permanece, mas sem você. Vai ser você que vai me seguir? Vai ser você que será a minha sombra depois que eu acordar? Mas sem nunca mais se lembrar de mim. Sem nunca mais me tocar.
Eu sonhei que eu chegava. E que atravessava uma rua pra te abraçar e te beijar e dizer que eu havia chegado (mesmo pensando que talvez iria embora de novo) e você estava com uma amiga. E depois eu estava num bar e ao meu lado havia vários amigos que foram embora da minha vida e cada um com uma profissão, um corpo e um lugar diferente. E depois havia um homem que entrava no bar e que não tinha sexo e na parte inferior do corpo tinha três ou quatro ou cinco pessoas que saiam dele como uma doença, como um siamês de onde cada vez mais nasce uma outra pessoa, adultos e bebês. Eu sou aquele homem. Aquele homem fala de mim.