quinta-feira, junho 28, 2007

Mom

That little flame
That little flame is growing
It may never be born
But it sure was worth it
It sure was worth it
It was all worth it, mom

Três passos certos e uma indecisão

E se todos começassem, de repente, a falar português e eu descobrisse que era tudo uma grande farsa isso de todos falarem uma língua diferente, de todos terem uma visão diferente, que não passou de um engano isso de que nunca poderemos concordar em nada, que estaremos sempre separados, que não há contato?
E se eu descobrisse de repente que tudo isso foi uma ilusão sobre a ilusão que criamos e que pensamos, num golpe de sorte, haver desmascarado. Eu entrei naquele poço com bosta até os meus joelhos e na minha perna e um fedor insuportável e enquanto eu cavava mais fundo por mais eu chamei aquilo de "A Verdade", e o máximo que eu alcancei foi ter reconhecido que aquela era "a verdade" oposta àquela do céu que me esperava lá fora.
Agora eu chego em casa e não há luz e eu queria muito tomar um banho porque eu estou fedendo e eu não sei por quanto tempo essa casa será minha ou por quanto tempo eu vou guardar boas memórias dela e eu não sei se a noite passada foi a melhor coisa que eu já fiz na minha vida mas eu fiz e eu não sei foi a coisa que eu mais disse para ele na língua dele, provavelmente umas três vezes e talvez isso seja suficiente para ter uma idéia estranha de mim.
A reportagem do Estadão dizia que não havia mais guerra civil. (Eu me lembro de Time Square com "War is Over", se você quiser...). A guerra acabou mesmo, eu quis, agora você poderia me ajudar se você quisesse, nessa reconstrução de Varsóvia ("Não, não vive nenhuma Senhora Carmen aqui..."). Eu sei que eu vou ter uma alma assim que a hora chegar. Eu sei que eu tenho uma alma.
Assim que eu sair dessa escuridão eu descobrirei o que e quando estava faltando e o que é que estive perdendo. Essa coisa misteriosa, prenda de estivadores. Eu estive cansado por tanto tempo que a idéia passou a me alegrar mais que a ação, e a paixão. E assim eu me tornei um ineficiente sonhador que não pára nunca e fica batendo as pernas nos joelhos e os calcanhares no chão, sem poder se decidir nunca entre um sonho ou outro ou se espera o sonho que chega inevitavelmente da falta de decisão. Além do mais, se os sonhos viraram a parte integral mais importante da minha vida é porque eu devo estar brincando com agulhas de novo.
Os campos devastados em todo o mundo me chamam para a sua reconstrução. Agora eu posso trabalhar chorando. Porque eu sou esse pato estranho que, ademais, sabe cantar sua canção. Porque depois daqueles corpos jogados tão displiscentemente deve haver algum tipo de chão ou consciência "fertilizado pelo sangue", purificado pelas lágrimas, luminoso, onde a gente possa construir uma casinha. Eu me lembro de quando ele jogava os ossos na trincheira e eu rezava para que chegasse o dia em que mais pessoas pudessem ser felizes como agora eu sou.