Ele se refestelava entre as folhas empoeiradas. Aquele marrom pardo de poeira embolorada poderia lhe garantir séculos de idade média, confinada na torre de um castelo, para então enviar um pombo mensageiro (todo branco) carregando na pata dianteira a mais alva mensagem.
Se acertasse o alvo poderia desfrutar de um fim-de-semana em Búzios ou na praia, poderia escolher uma velhice tranqüila, a que nunca foi escolhida, pois de juventude turbulenta não se constroem anciões sábios e não-conflituosos, mas se fosse derramar sangue, que fosse o dele próprio assim como de todos os outros que assistiam a cena. Sim, algo havia mudado nesse meio-tempo, na fina-flor, a cola que gruda tempo e espaço, construiu-se um puxar martirizante que não martirizava ninguém pois não havia santo, mas era o próprio martírio, aquela matéria-mundo sendo puxada em direções opostas. Aí então tudo TEVE QUE mudar, as mães não eram mais mães-guerreiras, amazonas marcianas do novo apocalipse, eram velhas cansadas e um pouco chatas que só pediam um pouco mais de descanso e tranqüilidade, os pais não eram mais jardineiros/cegos carrascos oscilando frenético-esquizofrenicamente entre esses dois extremos, eram homens que até se sentariam em um sofá para falar de algo que não tinha importância nenhuma, mas que se sentariam no sofá e falariam sobre algo que não tem importância nenhuma, os companheiros, seja de sangue, partido ou estrada, não eram mais os fiéis escudeiros de uma pretensa superioridade, sempre prontos para a próxima batalha sem discordar do senhor, eram pessoas que traiam e podiam até apunhalar, mas de quem se podia separar e andar em caminhos opostos sem medo do escuro, sem medo da ponta da faca. Aquela faca não fere mais o dorso de pura carne humana-divina. De agora em diante eu construo minha casa no quintal e se for pra ser mansão que seja a maior delas no mais alto pico do Atacama. Que nenhum desses homens não tenha coragem. Que nenhum desses homens esqueça de trazer à tona o que é seu.
domingo, janeiro 07, 2007
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